CECIFRANCE
"Cecifrance Aquino é uma carioca radicada em Curitiba que compartilha sua arte ao longo de anos, entre as principais cidades brasileiras, como São Paulo e Salvador.
Seu olhar para as questões sociais e políticas se expandem aos traços contemporâneos de suas produções, em diversos materiais, impulsionados sempre pela literatura e a história da arte. A sua formação acadêmica permite a ela percorrer linguagens artísticas como a música, o teatro, a comunicação social, o design publicitário e a arte educação.
Atualmente tem como tema de pesquisa as raízes do povo brasileiro, suas resistências e a contribuição do negro no contexto universal."
Seguem aqui duas de uma "reunião" de produções em diversas linguagens artísticas e materiais, que iniciaram no semestre passado e têm como mote negros, pretos, mulatos, pardos, afros e a história do povo brasileiro. Embora muito abrangente, não dá pra deixar de fora crianças, mulheres, escravos, trabalhadores e artistas. Resolvi então olhar para minha própria história.
Sou afro descendente, filha de pai soteropolitano, negro e mãe descendente síria, mineira, branca.
Neste estudo busquei passagens da minha infância, como aquelas quatro horas do processo de alisamento de cabelo, que resolveria "alisar o complexo" da mãe daquela garotinha de 5 anos, que no Jardim de Infância era questionada pela textura das madeixas e perseguida pela marchinha carioca que dizia: " ...o teu cabelo não nega mulata, por que és mulata na cor..." E trinta anos depois a história se repetia com a" filha da garotinha" pedindo de presente de aniversário, aos sete anos, um cabelo que balançasse!
Desde a infância tive a oportunidade de frequentar conservatório de música, ballet, inglês, teatro, arte... crescendo numa realidade de elite branca entre o Rio de Janeiro e São Paulo.
Adulta em Salvador pude vivenciar o racismo calado...vendo parentes, amigos e funcionários, afrodescendentes, não perceberem a força de sua etnia, ignorando a origem. O racismo na Bahia (e porque não dizer no Brasil), permeia a ignorância em relação a nossa história: a História do Brasil.
Vivenciei momentos de engajamento político, artístico, cultural em Salvador, mas somente ao chegar em Curitiba em 2006 com minha família, pude conhecer realmente o preconceito, a xenofobia e o racismo.
Como arte educadora, trabalhei arduamente contra currículos ultrapassados no ensino da arte, questões de discriminação religiosa, desconhecimento de movimentos vanguardistas e seus artistas, interpretes e compositores negros nas artes brasileiras...enfim, coqueiros versus araucárias. Um Brasil, dentro de outro "Brazil".
Agora, afastada da EDUCAÇÃO, neste momento de intolerância social e polarização política sinto obrigação de dirigir minha arte para o caminho da reflexão, da denúncia, da valorização da origem. Assim tem sido o trabalho: pesquisa da cultura afro brasileira, estudo de cores, imagens e artistas do continente africano e links com a arte brasileira. Segredos são desvendados a cada produção desta série através das cores... todas as cores: O SEGREDO DA COR.