Raildes Moro
Sexualidade
A sexualidade em si não traz peso algum, somos o que somos e não temos como mudar nosso desejo, nosso interesse em outrem, porém a sexualidade passa a ter um peso absurdo pelas cobranças que sofremos da sociedade, dos familiares e amigos. Sempre somos direcionados para esta ou aquela maneira, conduzidos como títeres, marionetes, até que consigamos nos libertar das amarras e deixar os titereiros para trás e seguirmos o que somos, um longo caminho para muitos e certamente com muitas frustrações e sofrimento, mesmo aqueles que estão dentro do chamado "padrão social convencional", terão suas desventuras também. Os trabalhos mostram que somos feitos de cordões, amarras!
Procuro fazer uso, na arte contemporânea, de materiais milenares que fazem parte do nosso dia a dia, como linha, vidro e o tecido, que ganham outras funções, diferentes daquelas que estamos acostumados. O uso de materiais diversos como o tule e bordado, estão em um contexto em que é preciso observar a intenção no uso deles, que devem ser considerados como partes que se fundamentam , trazendo a tona significados, intenções e plasticidade a obra. A exploração de formas e texturas, aplicadas em conjunto, em uma simbiose de materiais onde as mãos têm papel fundamental, e para melhor descrever cito Henri Foncillon: "É através das mãos, trabalhando na matéria, que as harmonias delicadas, despertando o que há de mais secreto nos recônditos da imaginação e da sensibilidade, tomam forma, inscrevem-se no espaço e se apoderam de nós" (1983 p 142, 143).
O interesse na figura humana, aliado aos diversos sofrimentos a que somos submetidos, pelo simples de estarmos vivos, e não termos como evitar, direcionam alguns dos meus trabalhos para esta mistura; sempre muito explorada, mas que tento colocar junto a esta dor e sofrimento a delicadeza, para de alguma forma trazer alivio aos dramas humanos ali representados.